sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Apenas 8,1% saem do Ensino Médio sabendo Matemática

Dados apontam déficit em Língua Portuguesa de alunos do 5º ano do Fundamental da rede pública no Estado

Diagnóstico divulgado pelo movimento "Todos pela Educação" revela quadro estarrecedor no Ceará. Apenas 8,1% dos alunos que concluem a 3ª série do Ensino Médio sabem adequadamente Matemática. No Ensino Fundamental o problema também é grave: só 11,1% dos que terminam o 9º ano têm conhecimento apropriado na disciplina.

O resultado não é muito diferente no restante do Brasil, onde quatro Estados, excluindo a região Norte, alcançaram bons desempenhos - Rio Grande do Norte; Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás. O restante acompanha a média nacional com 11% dos estudantes que terminam o terceiro ano do Ensino Médio estão tendo aprendizado apropriado em Matemática e apenas 14,8% dos que concluem (8º ou 9º ano) o Ensino Fundamental.

Relatório

Os dados fazem parte do relatório "De olho nas Metas", elaborado anualmente pelo "Todos Pela Educação", grupo da sociedade civil que tem como missão contribuir para a efetivação do direito de todas as crianças e jovens do Brasil à Educação Básica de qualidade até 2022, ano do bicentenário da independência do País.

A meta mais importe sugere que "até 2022, 70% ou mais dos alunos terão aprendido o que é adequado para a sua série". Se a evolução atual for mantida, o Brasil só vai atingi-la em 2050.

As outras metas a serem alcançadas são: toda criança de quatro a 17 anos na escola; toda criança alfabetizada plenamente até os oito anos; todo jovem com Ensino Médio concluído até os 19 anos e investimentos na educação ampliado e bem gerido.

O aprendizado em Língua Portuguesa é um pouco melhor, embora abaixo do ideal. Entre os alunos cearenses da 5ª e 4ª séries somente 27,5% obtêm nível adequado. No Brasil, os alunos que terminam o Ensino Médio (3º ano) com aprendizagem adequada são apenas 28,9%. Na conclusão do Ensino Fundamental o índice não passa de 26,3% e entre os alunos de 5ª/4ª séries chega a 34,2%.

Para o professor da Faculdade de Educação, Idevaldo Bodião, o resultado não traz nenhuma novidade e ocorre também em outras disciplinas como Ciências, História, Geografia. As soluções, afirma ele, também não são novas e já poderiam, se implementadas provocar mudanças para melhor nos próximos anos.

A primeira delas, aponta Bodião, diz respeito aos recursos. "Sem dinheiro suficiente não se faz quase nada". Para ele, o Brasil superou o desafio de possibilitar acesso à escola na educação básica, no entanto ainda existem barreiras no acesso às creches e educação infantil. A maior meta brasileira, no entanto, diz, é "efetivar o direito a aprender direito" e isso só se faz com mais dinheiro.

Hoje, analisa, se faz o que é possível com os recursos disponíveis vindos da proporção das matrículas. "O ideal seria fazer o que é necessário por meio do custo/aluno/qualidade, que tem parecer favorável no Conselho Nacional de Educação".

Outro ponto, indicado por ele, seria a implementação da Lei do Piso Salarial para professor de forma plena. "Com isso, o educador pode planejar aulas e se preparar melhor".

Outra questão diz respeito ao Plano Nacional de Educação, que se extinguirá esse ano e precisa de nova versão para os próximos dez anos. De acordo com Bodião, a Conferência Nacional de Educação, realizada entre março e abril passados, aprovou vários pontos, inclusive aumentar de 5% para 10% do PIB para a educação.

A educadora Nadja Furtado, da Comissão de Defesa do Direito à Educação no Ceará, afirma que apenas a expansão da matrícula não traz melhoria no ensino.

"Isso tem que vim acompanhado de medidas que passam, como o professor Bodião diz, por mais recursos".

METAS

1: Toda criança e jovem de 4 a 17 anos na escola

2: Toda criança plenamente alfabetizada até os oito anos

3: Todo aluno com aprendizado adequado à sua série

4: Todo jovem com Ensino Médio concluído até os 19 anos

5: Investimento em Educação ampliado e bem gerido

PESQUISA
SME diz que investe em melhorias

A Secretaria Municipal de Educação informa, por meio de sua assessoria de imprensa, que a Prefeitura de Fortaleza está investindo e caminhando para melhorar os resultados da meta 3. A SME esclarece que ainda é cedo para avaliações mais complexas, já que o "Todos Pela Educação" tem somente quatro anos de existência e o prazo para alcançar a meta é 2022.

"Em razão do calendário do Sistema Municipal de Ensino não ser compatível com o das outras escolas, a cidade de Fortaleza também sai prejudicada na avaliação, pois em novembro, mês em que é realizada a avaliação, os alunos municipais ainda estão em pleno andamento do ano letivo, diferente das outras cidades que já estão com o período letivo concluído", afirma.

Sobre o acesso a educação infantil, a SMS informa que a Prefeitura vem ampliando desde 2005 o atendimento ao ensino Infantil, priorizando a demanda dos bairros e do Orçamento Participativo. Para ampliar o atendimento em creche, a SME garante que vem promovendo convênios com associações, municipalizando creches e passou de 50 unidades em 2005 para 138 creches em 2010. Os dados representam um aumento de mais de 100% no número de vagas em creche, de 2005 pra cá.

Também estão sendo construídos Centros de Educação Infantil padrão MEC para atender crianças de um a cinco anos. Oito já foram entregues na atual gestão e mais sete devem ser entregues até 2012.

Seduc

A Secretaria de Educação Básica do Estado (Seduc), por e-mail, explica que não será possível a participação dos técnicos do órgão nesse momento. Os profissionais que atuam na área do Ensino Médio estão reunidos até os dias 2 e 3, com 300 diretores da rede estadual em um seminário. Já a equipe de avaliação da Seduc faz uma capacitação com os supervisores que vão atuar na aplicação do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece) que acontece no período de 6 a 9 de dezembro, para estudantes dos 2º, 5º e 9º anos do Ensino Fundamental das redes estadual e municipais dos 184 municípios do Ceará, além das turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Ensino Fundamental (7ª e 8ª séries) das escolas estaduais.

O Sistema, diz a nota, avalia as competências e habilidades nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática dos alunos do 5º e 9º ano do Ensino Fundamental e das 1ª, 2ª e 3ª séries do Ensino Médio, cujos alunos fizeram prova de 16 a 18 de novembro.

A Seduc conhecerá ainda o nível de leitura, dos alunos do 2º ano do Ensino Fundamental (Spaece-Alfa), atendidos pelo Programa Alfabetização na Idade Certa (Paic), desenvolvido pelo Governo Estadual.

Além dos testes aplicados, o Spaece incluirá aspectos contextuais coletados por meio dos questionários: do aluno, para obter o perfil socioeconômico e hábitos de estudo; do professor e do diretor, para traçar o perfil e a prática docente.

O Spaece, afirma, tem por objetivo fornecer subsídios para formulação, reformulação e monitoramento das políticas educacionais, além de possibilitar aos professores, dirigentes escolares e gestores um quadro da situação da Educação Básica.

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