Nos moldes atuais, a assistência técnica rural no Ceará é ineficiente e não funciona a contento. A avaliação é unânime de secretários de Agricultura da região Centro-Sul. Os próprios funcionários e dirigentes da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce) reconhecem a fragilidade em decorrência da descontinuidade do trabalho dos técnicos no campo.
A principal crítica é contra o modelo de trabalho dos técnicos agrícolas. Criado em 2004, pelo Governo do Estado, o Programa Agente Rural prevê seleção e contratação dos agentes por meio de bolsas, com duração de três anos, sem direito a renovação, pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap).
Quando os profissionais adquirem experiência prática, após treinamento e capacitação dada pela Ematerce, conhecimento e vínculo de relação de trabalho com os produtores, conclui-se o tempo de serviço e precisam ser dispensados. O ciclo recomeça com novos agentes e essa realidade deixa os agricultores insatisfeitos e o programa sofre descrédito. "Considero essa modalidade desumana", disse o coordenador da Ematerce, na região Centro-Sul, Joaquim Virgulino Neto. "Quando os técnicos aprendem o trabalho têm de sair e a descontinuidade contribui para a falta de qualidade adequada da assistência técnica". No próximo mês de agosto, o escritório da Ematerce, na região Centro-Sul, que atende a 14 Municípios, perderá 24 agentes rurais de um total de 62, porque o período de três anos de contratação será concluído. O Instituto Agropolos na região, há três meses, perdeu dois técnicos de nível superior, agrônomos, que atendiam nas áreas de fruticultura e olericultura.
Modelo
O atual modelo de assistência técnica está na contramão da história. Desde 2000, com a criação da Secretaria de Agricultura Irrigada (Seagri), o Governo do Estado implantou o Programa Caminhos de Israel e incentivou o plantio de fruticultura. Naquela época, houve a contratação de técnicos de nível médio e superior com experiência na produção de frutas no Vale do São Francisco, em Pernambuco.
O plantio de fruteiras espalhou-se em várias regiões do Ceará. Os antigos agricultores de cultivo de culturas de sequeiro e de sobrevivência acreditaram na possibilidade de colher frutas e implantaram novas tecnologias, com irrigação, e mudaram o cenário do sertão cearense. A região Centro-Sul é uma das que se desenvolveu e até hoje expande os pomares.
Ampliação
A partir de 2005, com o novo governo, houve a extinção da Seagri, que se fundiu com a Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA). Nessa época, o Instituto Agropolos também perdeu forças e técnicos foram demitidos. O Programa Agente Rural acenava com uma nova modalidade de ampliar a assistência técnica, mas logo a realidade iria demonstrar a fragilidade do programa, porquanto não há continuidade do trabalho.
O secretário de Agricultura de Iguatu, Valdeci Ferreira, é um dos críticos do modelo atual. "Avalio como ineficiente. Não funciona, pois não há continuidade". O secretário de Agricultura de Jucás, José Teixeira Neto, já exerceu a função de técnico no modelo anterior, na época da Seagri, e é mais um que questiona a precariedade da assistência técnica.
"O sistema é falho. Os técnicos contratados, recém saídos da escola, não têm experiência e nem conhecimento suficiente". Teixeira foi taxativo. "Do jeito que está é um faz de conta".
As Secretarias de Agricultura dos Município de Iguatu e de Jucás formaram equipes próprias de assistência técnica, aproveitando profissionais da primeira contratação, com experiência e conhecimento.
Praga causa prejuízo para fruticultores de Cariús
Cariús Os produtores de goiaba da Agrovila Muquém, no entorno do açude de mesmo nome, localizado na zona rural deste Município, na região Centro-Sul, enfrentam prejuízo em face do ataque de uma praga que vem impedindo o crescimento e amadurecimento dos frutos. A infestação aumentou nos últimos dois meses e está se espalhando em oito pomares vizinhos. Os fruticultores reclamam por assistência técnica.
O produtor, João Lucena, conta que a doença começou no ano passado, embora mais recentemente tenha se espalhado no pomar. "Já colocamos alguns produtos químicos, mas não resolveu", disse. "O ataque continua atingindo as goiabeiras". Outro produtor, Francisco Gomes, tem relato semelhante. "Agora na segunda safra deste ano, a doença se espalhou ainda mais", disse. "Perdi mais da metade da colheita prevista". De acordo com o relato dos produtores, os frutos apresentam mancha avermelhada, que atrapalha o desenvolvimento e amadurecimento. Algumas goiabas ficam com manchas escuras no interior e o fruto fica imprestável para o mercado.
"O projeto estava andando bem, mas o aparecimento dessas doenças tem atrapalhado e acarretado prejuízo", disse um dos líderes da comunidade, Antônio Barbosa Neto.
Os produtores reclamam contra a falta de assistência técnica de qualidade. "Um técnico esteve aqui, mas sequer foi ao plantio, pediu para trazer uns frutos para dar uma olhada", contou João Lucena. "Não acho isso certo". Os produtos usados até agora não têm surtido efeito no combate à doença, que é ocasionado por ácaro e fungos. Nesta época fria, de temperatura amena, é preciso fazer poda correta para arejar o plantio e reduzir a umidade. O cenário vivenciado pelos produtores da Agrovila Muquém contrasta com outras áreas de plantio nos Municípios de Jucás, Iguatu e até mesmo no próprio Cariús. A maioria dos pomares está em desenvolvimento, com safras crescentes e frutos sadios. Os agricultores comemoram permanentes colheitas e o preço atual do quilo da goiaba, na roça, por R$1,00, permite boa lucratividade.
O projeto de fruticultura na Agrovila Muquém foi implantado há cerca de três anos pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA). São oito produtores, com um hectare cada. Foi instalada uma adutora a partir do Açude Muquém para abastecimento humano e para a irrigação do plantio de banana e goiaba, liberação de recursos para aquisição do sistema localizado de irrigação e compra de mudas de goiaba e banana. O investimento foi a fundo perdido, pois os agricultores eram antigos trabalhadores em terras que foram cobertas pelas águas do reservatório. O grupo ganhou casas.
O secretário de Agricultura de Cariús, Jucil Lopes, disse que o Município mantém técnicos para os projetos de piscicultura e fruticultura. "Vamos ampliar e melhorar a assistência em parceria com a Ematerce".
Sobre os problemas ocorridos na Agrovila Muquém, disse que são localizados e que iria verificar o acompanhamento que há para os fruticultores. "Não há falta de técnico e já fizemos trabalho de organização, mas há certa resistência por parte de alguns em seguir as orientações", esclareceu. "Vamos realizar um novo trabalho de conscientização".
Os maiores responsaveis por tudo isso são os prefeitos, que não querem a melhoria dos resultados dos agricultores, administrando politicamente as Secretarias de Agricultura, quando existem e atuam como deveriam. Enquanto não tomarem a decisão de fazer a assistencia técnica verdadeira, de propriedade em propriedade e que o produtor queira receber visitas continuadas de técnicos competentes, nada irá funcionar. Tudo depende do querer, dos gestores municpais e, principalmente dos agricultores.
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